sexta-feira, 14 de setembro de 2012

- ZÉ BUDEGA, O CRAQUE

                                            Crônica de 27.05.2012 de Antônio Fábio Publicada às páginas 145 e 146 do meu livro ANTOLOGIA EM PROSA & VERSO

                                             ZÉ BUDEGA, O CRAQUE


Palavras que voltam à mente trazidas pelos ventos da saudade / E / Que ecoam em nossos corações/ De repente um perfume no ar / Que entra na alma e faz sonhar.


      O Pombense goleava o Itararé de Tocantins, o Aimoré de Ubá, o XV de Novembro de Rio Novo, mesmo no campo de adversário, graças ao Zé Budega. No seu reduto da rua Luíza Alvim tudo era mais fácil. Tínhamos uma charanga sob a batuta do Genário e seu piston, sempre fazendo a festa com mais de 2.000 torcedores. A tarefa era facilitada porque seus companheiros também eram bons de bola: os goleiros Cici, Rivas ou Genito (Mercês) - os laterais, Schubert, Quinzinho, Papagaio ou Delcinho - os zagueiros: Divino, Genário e Jalmeno de Silveirânia - os laterais: Tinho Vaz ou Duquinha (irmão do goleiro Cici) - os meio-campistas Geraldo Cunha (chute certeiro e exímio cobrador de faltas), Merico (grande distribuidor de jogadas) ou Zé do Pedrinho - dos atletas da linha de frente Jackson, Toninho do Dr. Zé Reis, do Pinto do Sô Lino e o Filizzola na torcida dizendo: fecha o portão, vamos dar um coro nessa turma.
      Era da época do Paulo Furtado e do Luizinho Furtado, do União de Silveirânia que apoiavam esse Pombense de tantas glórias. Época em que a gente sabia que a alegria do triunfo jamais poderia ser experimentada se não existisse a luta, que é a que determina a oportunidade de vencer.
      O Zé Budega era veloz e audaz, tinha ginga e habilidade, era um jogador de toques rápidos e envolventes, sabia fazer gools de calcanhar, de bicicleta, de letra e era um exímio cabeceador. Não era alto, mas tinha muita impulsão. Sempre o via encher o pé de qualquer distância, com qualquer uma das pernas indiferentemente, para estufar as redes. Imprevisível e surpreendente, mais criativo do que a criatividade e, futebolisticamente, mais sábio do que a sabedoria. Um jovem de rara limpidez, além de uma técnica apurada. Sempre antes que a bola lhe chegasse, numa fração de segundos, já calculava sua trajetória e velocidade, a posição dos companheiros e adversários. Parecia que ele tinha um computador no cérebro e outro olho na nuca.
      Zé Budega desfilou todos esses talentos no Pombense e no América de Rio Pomba, no Tupi de Juiz de Fora e no América do Rio que na época era um grande time. Foi um dó ele ter largado tudo no Rio de Janeiro por causa do seu amor rio-pombense: a minha irmã Marlene a quem fez muito feliz. No Rio em 1955, estava sobre o comando de Gyula Mandi, técnico polonês, da seleção da Hungria que havia feito o maior sucesso na copa de 54 que o considerou uma grande promessa. Foi reconhecido como craque pela REVISTA MANCHETE ESPORTIVA. Poderia ter até servido à Seleção Brasileira se não tivesse um temperamento compulsivo.
      Foi um grande pescador e também aquele que sempre se aventurava nas águas turvas dos rios à procura de pessoas desaparecidas. De temperamento brigão, estopim curto e que não levava desaforo pra casa, mas de coração puro que até tirava sua camisa pra cobrir o outro. Era um doador de sangue assíduo do hospital.
      Estou a dizer tudo isso em busca da verdade, já que é um fato reconhecido por todos os futebolistas da região e de todos que o conheceram de perto. Digo isso com imparcialidade, com emoções novas e uma contemplação crítica.

Fica esse fato de título de craque como de uma firma registrada em Cartório e que nunca estaria com o prazo de validade vencido.

Um comentário:

  1. Convivi com ele, meu amigo e companheiro, fui para sp em 1968. Grande conterrâneo e amigo, trabalhava no correio.

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