sábado, 28 de agosto de 2010

- Dois filhos de Francisco

               Dois filhos de Francisco
                                                           (Crônica publicada no jornal O Imparcial em 30.01.2010)



Luz, Câmera, Ação!...Sempre fui amante da sétima arte, o cinema. Até trabalhei em “O Viajante” filme de Paulo César Seraceni. Fui o padre do filme a convite de sua esposa, hoje diretora da Globo. Filme que teve suas melhores cenas em Rio Pomba. De música sertaneja nunca fui fã. Hoje, depois da “Dança de salão”, gosto de músicas ritmadas de qualquer gênero, principalmente de Roberta Miranda. Sempre pensava quando ouvia pelo rádio ou via pela TV aqueles caras cantando músicas sertanejas em São Paulo: que jecança, sô! Mas, sabendo que não sou dono da verdade, que cada vez mais a população está se encantando com este ritmo, sua cultura crescendo, passei a ver nela, além da melodia, letras interessantes. Pesquisas apontam como as mais ouvidas no país. Existem programações voltadas para o estilo por todo lado. Entre os artistas mais ouvidos na preferência do público brasileiro, estão Zezé Di Camargo e Luciano. Você me desculpe, mas desde os tempos do “CINE PROLAR” tenho a mania de comentar, interpretar, criticar sobre filmes que vejo, apesar de não ser um “spert” no assunto.
            Pelas razões expostas, resolvi me aventurar a assistir “Dois filhos de Francisco”, mesmo assim com um pé atrás mais em razão do preconceito. Foi em Ubá – por DVD que saiu antes do filme (coisas de piratas) - na casa do casal 20, os primos da Fernandina Zé Maurício e Ana Claúdia e filhos que adoraram o filme. Para surpresa de muitas pessoas (inclusive eu) o resultado, confesso, foi muito bom. Quando soube que estavam produzindo um filme sobre a história da dupla sertaneja Zezé de Camargo & Luciano, logo pensei: “nossa sociedade está cada vez mais sem ter o que fazer”. Pensei que seria um lance comercial para promover mais a dupla, como se isso fosse necessário. Para minha surpresa, ao final, eu me havia deliciado com uma excelente obra que, conseguiu emocionar não só a mim, mas grande parte dos brasileiros. Impossível não passar a ter admiração e respeito pela história de vida deles: fantástica e digna de aplausos.

            Dirigido pelo estreante Breno Silveira (trabalhou como diretor de fotografia em "Eu, Tu, Eles"), "dois Filhos de Francisco" é um filme emocionante, o qual retrata com fidelidade a dura trajetória do trabalhador rural Francisco, que deseja transformar os filhos em uma dupla sertaneja de sucesso, como aquelas que tanto gostava quando escutava seu rádio de pilha nos anos 60. Para que "Dois Filhos de Francisco" seja um filme cativante, apenas para quem não gosta da música sertaneja, é necessário que o espectador entre no clima da produção e tente esquecer por duas horas que se trata de uma biografia. É sempre interessante ver uma biografia e saber "como tudo começou" ou "como tudo aconteceu". O filme consegue agradar a todos independentemente do gosto musical, já que o foco da produção não é a carreira de sucesso da dupla, e sim, o que veio antes dela: a trajetória da família Camargo marcada por desafios, dando uma grande ênfase ao pai, seu Francisco. Filme sem apelações. Clima dinâmico. Consegue ser triste, emocionante, cômico e divertido. A história parece conto de fadas sobre pessoas humildes que se dão bem na vida. O enredo é tratado com delicadeza e carinho. Os atores mirins Dablio Moreira e Marcos Henrique, que interpretam Morismar (verdadeiro nome de Zezé) e seu irmão Emival (a grande tragédia da família: a morte de Emival), dão uma aula de interpretação. A trajetória dos garotos é a verdadeira imagem de milhões de brasileiros ao redor do país que passam por dificuldades e buscam por um sonho. Quanto ao elenco veterano, todos estão muito bem ajudando a manter a constância do elenco. A interpretação de Ângelo Antônio é um show à parte, transformando o Francisco do filme em um homem ímpar, ficando difícil encontrar características que o definam, rude, rígido, tenro, carinhoso, atencioso; esses são apenas alguns adjetivos que se encaixam bem ao personagem. É cativante ver os esforços por parte do pai para transformar os filhos em uma dupla de sucesso – vendendo tudo para comprar instrumentos, (uma gaita e uma sanfona) para os filhos, ou gastando todo o seu salário em fichas telefônicas para ligar para as rádios e votar na música deles – conseguindo transmitir bem a idéia de que a dupla hoje não seria ninguém sem o eterno apoio do pai.

            O filme termina logo no estouro do primeiro sucesso deles, a música “É o amor”. O filme calou a boca dos muitos (inclusive a minha) que tiraram conclusões precipitadas sobre ele. Ainda sofrerá muito por ser um filme brasileiro, ainda mais se tratando de uma história sobre uma dupla sertaneja. Mas as boas críticas que vem recebendo (sendo inclusive ovacionado no festival de Gramado) são a resposta direta para esse preconceito.

            Quem sabe após assistir o filme, você crie ânimo para levar adiante seus sonhos antigos, pois eles são os últimos que morrem. Hoje não me assusta tanto a música sertaneja e nem o Fim do Mundo, o que me assusta mais é o Fim do Mês.


“Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém! Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim e ter paciência para que a vida faça o resto”...

(William Shakespeare)

Nenhum comentário:

Postar um comentário