terça-feira, 24 de agosto de 2010

- Guerra, aspecto ecológico cultural

Guerra, aspecto ecológico cultural
        Crônica publicada em jornal em 02.abril.2003


            Esta invasão, que supomos ter alguma coisa “antraz”, terá, certamente, um custo ambiental complementar à Guerra do Golfo em 1991. Naquela ocasião, as forças iraquianas incendiaram 732 poços de petróleo no Kuwait, provocando catástrofe ecológica. O custo pela guerra de 91 foi estimado em US$ 40 bilhões. Desta vez, poderá ser o dobro ou o triplo, e apenas no tocante ao meio ambiente. O futuro nos dirá. Espanta-nos só em pensar em quais foram os custos humanos. O Iraque tem a segunda maior reserva comprovada de petróleo do mundo, depois da Arábia Saudita. Até hoje, 02.ABRIL.03, quando estamos escrevendo este artigo que não sambemos quando será publicado, Saddam, praticamente, ainda não tinha adotado a política da “terra queimada” colocando fogo em seus poços de petróleo. De 1000 somente 30 foram incendiados, o que não é pouco. Talvez ele não queime sua própria riqueza e nem destrua suas represas. Pode ser que isto não aconteça. Já aconteceu antes e os problemas somados aos que já aconteceram agora e os que podem vir no futuro, teria um efeito ambiental devastador, um impacto no meio ambiente com aumento de temperatura dos paises do golfo e o aquecimento do planeta, o efeito estufa. De qualquer maneira, esta região, que luta para criar um oásis no deserto perderá muito do que já se fez até agora. Em 1991, o incêndio dos poços kuwaitianos lançou na atmosfera 500 milhões de toneladas de dióxido de carbono. A 2000 km de distância, no Irã, foram encontrados sinais de petróleo, fuligem, sulfuro e outros ácidos negros produzidos pelos incêndios. Os iraquianos também despejaram cerca de 8 milhões de barris de petróleo no Oceano Índico e perto de 60 milhões de barris no deserto do Kuwait. Até hoje as areias desse país, invadido pelo Iraque em 1990, ainda transpira petróleo. Preocupam, especialmente, os projéteis de urânio empobrecido, resíduo obtido da produção de combustível destinado aos reatores nucleares e às bombas atômicas. A explosão desses projéteis liberaria no ar óxido de urânio, uma substância cancerígena. Esse veneno não pode ser detido nem localizado depois que esteja em suspensão no ar e tenha invadido o solo e contaminado a água. Não respeita fronteira. Assim, milhares de hectares de terras iraquianas e seus cursos de água poderão ser contaminados. Em 91 o petróleo matou 25 mil aves costeiras. Já são consideradas extintas mais de 40 espécies de aves aquáticas, crustáceos e mamíferos exclusivos da região. Os incêndios de 91 produziram nuvens negras que bloquearam a luz do sol por meses.     
            Essa guerra ameaça acelerar a destruição da região fértil do Iraque apontada por cientistas como inspiração do paraíso bíblico, Jardim do Éden. Terra natal de Abraão, da Babilônia de Nabucodonosor que me inspirou fazer um jardim suspenso aqui em casa, nas minhas posses. È claro. A Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates do meu tempo de ginásio, tem seus dias de glória contados. Ginásio da época do competente advogado e meu professor de história, o admirável Dr Waltencyr. Falar em cultura é falar do não menos admirável Prof.Aristóteles Ottoni Cardoso, o Prof.Tote. Eles são 10. Atrás de grandes homens, grandes mulheres, Maria Eloi e Rita. O fim do pantanal com seus búfalos e terras de arroz não está longe. Esta guerra ameaça ser o tiro de misericórdia nesta região considerada de herdeiros de sumérios e babilônios. Saddam, antes das guerras, já construiu rios artificiais, secando os pântanos para levar água à Bagdá. A Síria e a Turquia construíram represas nas nascentes do Tigre e Eufrates detendo as águas que deveriam fluir para a Mesopotâmia. Tudo isso deverá contribuir para que a região seja desértica também.



            Estes bombardeios ameaçam a história, a cultura. Há mais de 5 mil anos ai surgia o berço da civilização. A invenção da roda, da matemática, da agricultura. Em sua aurora ela foi moldada pelos impérios que lá habitaram. assírios, ao norte, e babilônios, ao sul, nos deixaram como herança riquezas muito mais valiosas do que objetos antigos. Em cada monumento está a memória das primeiras cidades, dos primeiros textos e das primeiras instituições religiosas.   
            Pensamos que muitos podem não perceber, ou não querem ou não estão nem ai pra isso, mas o Iraque, além da perda de vidas, pode perder também sua identidade cultural. Os invasores ou forças de coalizão, como queiram (Estados Unidos do cowboy que mata por petróleo, com apoio dos governos da Inglaterra, da Espanha, da Austrália e da Coréia do Sul), e o que é pior, invocando o nome de Deus, devem evitar danos a esses locais importantes, mas o assunto não deve estar na lista de prioridades. Se houver um alvo militar ao lado de um monumento, eles vão atirar. Você não acha? (Eles ... ainda deverão encontrar o Osama, filho de Laden, não só ele, mas dezenas dele, além de Saddam’s. Quem semeia vento colhe tempestade). Outro perigo apontado pelos arqueólogos é o de saques. Após a Guerra do Golfo e o embargo das Nações Unidas, o tráfico de tesouros arqueológicos floresceu no Iraque.


            Já pensou os meus amados mestres professores Waltencyr e Tote dando aulas de história, ciência e cultura no ginásio, naqueles tempos, com os fatos de hoje? Nesse tempo de Coca-Cola, de tráfico de drogas de influência e de carros? Da geração cocaína? Tenho Saudades de Bagdá, um cenário dos contos das mil e uma noites. Ficamos tristes com a guerra, com as vidas sacrificadas. Todos somos irmãos. Filhos do mesmo Pai: Deus, Alá. Já pensou que o Iraque poderia ser visto não só com os olhos, mas também com o coração? Já pensou dar aula sobre a Mesopotâmia onde ela existiu? Aproveitamos a oportunidade para desfazer um erro grosseiro. O que se convencionou chamar de Golfo Pérsico, é, na verdade, o Golfo Arábico, pois do contrário, seria apenas do Irã, que é a antiga Pérsia. O Golfo é a entrada e saída dos paises árabes.


Senhor, possibilite-nos a despoluição, principalmente da mente de nossos dirigentes políticos. Amém.

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