quarta-feira, 25 de agosto de 2010

- Primeira enchente do século XXI

PRIMEIRA ENCHENTE DO SÉCULO XXI


Publicada em minha coluna SUBSÍDIO (Imparcial de 26.01.2003)


            O negócio é numerar mesmo as enchentes, senão corremos o risco de perder a conta. Antes também aconteceram outras, mas vamos falar somente daquelas que presenciamos desde meus tempos de adolescente. Lembro-me a de 52, a de 60, que levou a casa do Vavinho, a de 61 (a maior da época), as de 62, 63, 65 e a de março de 66 quando as margens do nosso rio Pomba foram alagadas por um período maior de tempo.
A de 1982 não atingiu as várzeas da estação. Foi do córrego do Tejuco e do rio Formoso pra baixo.
A água atingiu um nível de mais de metro na Praça central de Guarani, tendo havido grande prejuízo em dezenas de residências daquela cidade amiga e hospitaleira fato que se repetiu agora.
Em l979, aconteceu aquela que pensávamos ser a última do milênio, porque já se fazia 14 anos que o problema não se repetia. O governo achou por bem dinamitar a cachoeira de Passa-Cinco, rebaixando o seu nível em, aproximadamente, 3 metros. A história se incumbiu de mostrar que aquele procedimento não foi feliz, além de tirar todo o encanto e a beleza da cachoeira, pois as enchentes continuaram a acontecer.
Em 1983 aconteceu a 1ª maior enchente de todos os tempos. Em dezembro de 1999 nossa diretora e amiga Carmen Lúcia procurou-me e pediu-me que escrevesse sobre as enchentes que estavam acontecendo naquele dia, 09.12.99. Foi então que fizemos a matéria “A ÚLTIMA ENCHENTE DO MILÊNIO” publicada na edição de 19.12.99 de O IMPARCIAL. De lá pra cá, tomamos gosto de escrever, por isto estamos repetindo a dose. Na verdade não esperava que São Pedro também o fizesse.






            Não é que, hoje (20.01.2003), presenciamos a 2ª maior enchente de todos os tempos. Rio Pomba perdeu 9 pontes na zona rural, região mais prejudicada. A rodovia que liga Rio Pomba a Barbacena ficou interditada porque caiu a cabeceira da ponte do barão, aquela do trevo de Mercês, cidade que também ficou isolada porque além de cair a ponte Maria Clara logo na entrada do município, diversas barreiras interromperam os 6 km que ligam a cidade ao trevo. Silveirânia amanheceu sitiada porque as águas levaram a ponte do morro da Maria Ruberta (córrego das almas onde caiu um carro com um casal e três crianças. Todos se salvaram), logo naquela descida da Fazenda do saudoso Geraldo Faria. Não é que, na manhã de segunda-feira, 21, Piraúba amanheceu de luto porque um carro com 4 pessoas desapareceu nas águas do Ribeirão que, com a enchente atravessou para dentro do Hotel Prata.
            Estes 4 não tiveram a mesma sorte e foram encontrados no dia seguinte já sem vida. A Marmoraria Prata, e o Shopping e toda população também sofreu muito. Somente 4 anos se passaram após aquela última enchente do milênio (99), a que nos referimos, e nossa cidade amanheceu em polvorosa com todos estes acontecimentos e com uma enchente de toda pompa, como nos velhos tempos. Naquela ocasião já alertávamos a comunidade de que construir na Várzea da Estação seria construir num local inadequado e altamente perigoso. Não é que continuaram a edificar no mesmo lugar. E o pior, estão loteando a várzea do outro lado da ponte num local ainda mais perigoso onde as enchentes já derrubaram 7 casas da família Caiaffa Mendonça contando com a casa do Vavinho em 1960. Para falar a verdade, não sei a quem os proprietários deveriam pedir autorização para construírem lá. Se à Prefeitura, se a São Pedro ou... tendo em vista que o DOMICÍLIO É DO RIO. Pasmem!!! No local da antiga ponte da estação, aquela que o rio levou um dia, foi construída uma outra na mesma altura, ou seja, no mesmo nível, e, pra confirmar, foi inaugurada diversas vezes. Donde concluo, que quando o rio quiser levá-la de novo é só resolver. Sua tarefa foi facilitada. Hoje, a água já está passando por cima dela. Vamos aguardar a próxima enchente! Nós somos uma cidade privilegiada. Temos uma topografia invejável. Enquanto Guarani, Cataguases e outras cidades banhadas pelo o rio Pomba sofrem com as nossas enchentes, nós vamos à rodoviária e nos morros tirar fotos e dizer: Que beleza de paisagem! A cidade fica num nível muito mais elevado, portanto sem riscos. O único seria construir às margens dos rios, meu povo. Relativamente a tudo que tem acontecido no Estado e no País de um modo geral, devemos nos considerar premiados pela própria natureza. O Clube da Lagoa encontra-se também inundado e todas as ruas adjacentes também. A razão é simples e a solução muito difícil. Já foi objeto de uma matéria nossa: “Mergulhão da APAE”. A canalização foi muito mal feita, com tubulões insuficientes reduzindo a passagem da água em mais de 60%. Como é de se esperar, toda vez que chover, enchentes deverão acontecer novamente. Para piorar a situação, os ignorantes e criminosos da natureza ainda jogam pneus, colchões velhos e garrafas plásticas nos bueiros de lá. Merecem prisão e algumas solucionáticas podem e devem ser tomadas. Lata de cerveja você não encontra lá porque foi criada uma cultura de reaproveitamento pra elas. As garrafas plásticas, as embalagens de polietileno e outros corpos estranhos não devem ser jogadas lá, porque senão continuarão a ser uns dos fatores a contribuir para o entupimento dos bueiros e suas galerias pluviais. Saibam que hoje, no Rio, estão aproveitando estas embalagens em oficinas de artesãos para bolsas de praia, entre outros apetrechos da moda pet. Até roupa podem ser feitas com elas. Nem mesmo as prefeituras se preocupam com estas embalagens do lixo urbano. Devemos fazer uma lei obrigando as empresas que utilizam estas embalagens e recomprá-las para reaproveitamento. Devemos reeditar o personagem “Sujismundo” dos anos 70, lembram-se? Sobre o Bairro Nossa Senhora Rosa Mística, temos a dizer que o local foi escolhido para quadra de esportes para aquela comunidade tão sofrida. O projeto já se encontrava na Prefeitura, mas o Prefeito Toninho Motta não chegou a concluí-lo, em razão de seu falecimento. Pois bem, o local foi invadido pelos sem teto e somente não foi, a bem verdade e da justiça, um local hoje marcado por tragédia dessas últimas chuvas, porque o nosso prefeito Giovani houve por bem antever o problema promovendo a contenção das encostas, drenagem das águas das chuvas e sua urbanização, inclusive com calçamento em briquete de cimento e meios-fios. Quanto ao pessoal da Várzea da Estação não chegou a ser nenhuma catástrofe e o problema tem solução (murro de arrimo, de amparo, de fora a fora). Vemos todos os anos: Petrópolis, Teresópolis, Rio, Juiz de Fora, Angra dos Reis, Belo Horizonte, Contagem, Visconde Rio Branco e muitíssimas outras cidades - completo descaso às famílias carentes que ocupam morros, encostas, em meio às matas.
Deslizamentos, desabamentos e mortes, terror às famílias. Desalojados disputando abrigos com suspiro de crianças que brigam por eles, inocentemente. Quem morreu não volta mais.
            Quando acabarem as chuvas acabarão as ajudas? O que seria mais duro, a reconstrução das casas ou dos corações partidos? Em Rio Pomba não termos isso GRAÇAS A DEUS. Você não acha que regularizar a situação dessas pessoas com as escrituras pode levar outras famílias a ocupar outros locais de risco? Temos que pensar bem e procurar uma solução.



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