quarta-feira, 25 de agosto de 2010

- Piato D'Oro na cabeça...

         PIATO D’ORO NA CABEÇA
                                             (Crônica não-publicada - 17.02.2002





            Triiin, triinn, triiinn. Alô. É você Erasmo? Que prazer. Que mandas? - Uai! Vamos continuar nosso papo de sábado passado. – Você quer ir aonde? – Estou a fim de uma pizza. Minha escolha deu Piato D’oro na cabeça. Leve a Fernandina. – Sê que manda, estamos indo pra lá. – Combinado.- Telefonei para o Chico e Martha, mas eles preferiram ir para a lanchonete “Doce Mania”. Por volta de 8:20 h da noite nos encontramos naquela Pizzaria, comparável às melhores do estado, com aquele atendimento e aquela simpatia da família do Sô Geraldo. Pedimos sucos de coco e graviola, enquanto saia a pizza média de calabresa assada no forno à lenha, escolhida entre 60 sabores. A noite ainda era daquelas friorentas. E de cara já ataca meu amigo-filósofo Erasmo: sabe Totõe, você e a Fernandina são um casal rico. – Tais brincando. Retruquei. – Explico, continuou o Erasmo: é que suas observações e críticas são construtivas, não se escondem no anonimato. Só porque você não escreve para agradar, não podemos chamá-lo de chato por isso. Suas críticas não podem ser consideradas ressentimento, nem coisa de fraco, como é moda dizer em certas rodas intelectuais. Sabe quem é você, Totõe? Sou Eu. O outro agora é sinônimo de perigo iminente e a gente passa a vida tentando se proteger do outro, se isolando do outro. A gente acha que tudo na vida só acontece com o outro. Acontece que nós somos o outro do outro.O mundo parece que se tornou um lugar contra e não a favor do ser humano. Por isto continuou filosofando: podemos papear por muitas horas, pois o outro sou eu. – Fernandina interveio dizendo: você está massageando o ego do meu amor. – Que nada, isto é uma forma de riqueza. Pode-se ser muito rico sem ter dinheiro. – Por esse prisma, atentando no julgamento do amigo, constatei que realmente sou muito rico. Tenho uma riqueza suprema de viver em paz com a minha consciência, de fazer aquilo que gosto, de curtir o que tenho, adquirido com sacrifício. E, só tenho algumas virtudes, num universo de milhares de defeitos: nunca tive inveja de nada e de ninguém, também não desejo mal pra ninguém, nem sou vingativo. Quanto ao orgulho, no sentido de dignidade pessoal, brio e altivez, não me parece pecado, nem defeito. – É Totõe, realmente a gente conhece tanta gente rica monetariamente, mas que não passa de pobre endinheirado e avarento. E citou um bom número deles. E as pessoas chegando. E o recinto se enchendo. O ambiente aconchegante nos cumprimentava. E continuou o Erasmo que também é bom de canto: sobre os excessos e limites entre pais e filhos tenho a lhes dizer, Totõe e Fer, que as crianças e os jovens de hoje estão mais espertos, mais ousados, mais imaginativos por serem expostos às novas tecnologias que lhes permitem um desenvolvimento cerebral excepcional. Vídeo games, computadores e TV são uma ginástica para os seus cérebros e os sintonizam com a cultura de sua época – que, infelizmente, inclui o imediatismo e o consumismo como itens básicos. Todas as novidades vão sendo incorporadas à vida das crianças como se fossem necessidades. Tenho um conhecido que deu de presente de natal para sua filha de 10 anos um celular que, como o microondas, pode até ser cancerígeno. Melhor seria que lhe desse um brinquedo próprio da idade. E olhe, seus pais são da classe média baixa. Isto é uma corrida para lugar nenhum. É da constituição do aparelho psíquico ter que lidar com a falta. E é indispensável ao amadurecimento saber que não se pode ter tudo. As frustrações é que nos obrigam a criar caminhos alternativos de obtenção de prazer e satisfação. As “interdições” vão demarcando valores e limites: certo e errado; desejável, indesejável; permitido, proibido;possível, impossível.
            É um desfavor aos filhos, em longo prazo, ceder a todas ou quase todas as suas pressões. O que hoje parece deixá-los felizes custará um preço alto no futuro: eles vão estar mal preparados para lidar com as exigências, sacrifícios e as asperezas da vida. E a vida é dura: exige obstinação, sacrifícios, adiamento da gratificação, luta.
            Chegou a pizza! Até que enfim. – Demorou muito? – Não. É até melhor, porque assim podemos aprender mais com o Erasmo, disse ao proprietário Sô Geraldo. Olhe quem está chegando. A Sônia Costa. – Prazer. – Igualmente. Aí, aproveitei o intervalo para me desculpar com a Sônia por não tê-la chamado e pedir um refrigerante diet pra ela, pra mim e pro amigo filósofo e uma cervejinha para a Fernandina.
            Falamos da nossa real e precária situação, principalmente por convivermos com muitas pessoas sobre o mesmo teto financeiro, vez que não é da nossa índole deixar parentes e amigos desamparados. Para explicitar melhor a situação através de uma piada comparável a uma parábola contamos: “Orgulhoso, o pai exibe seus trigêmeos recém-nascidos a um amigo. – O que acha? – pergunta. – Bem, se eu fosse você – diz o amigo -, ficaria com esse aqui”.Rá, rá, rá. - Nosso filósofo, olhando para o lado, saiu com esta: ‘TÁ VENDO AQUELE CARA ali na mesa ao lado perturbando aquela morena? – Como? Ele nem está olhando pra ela! – Pois é isso mesmo que está perturbando a coitada.” Ruuun! Rá, rá, rá. Ré, ré. Se quiser sacanear a seriedade, tem que ser com humor.


            E a conversa continuou. Falamos do livro que estou escrevendo de “CULINÁRIA, CULTURA E HUMOR”. Falamos que a função da mídia numa democracia é a de informar e contribuir para a formação da opinião pública. Da luta de jornalistas, para que seus leitores saibam das verdades de que não devem ser originárias de interesses mercantis e sim de caráter público, da lealdade, da ética, da honra. Da tão propalada reforma da Previdência Social. Se é válido o princípio constitucional de que todos são iguais perante a lei. Dos pedágios, uma de nossas irracionalidades contemporâneas. Tempos de atrapalhos, a multa como o meio e não o fim. De justiça ou a falta dela. Da onda de descrença. Dos espertos e otários. Dos dissidentes ou coerentes. Das forças armadas não terem preparo para atuar como polícia com exceção ao namoro do filho do presidente. De suas excelências, os criminosos. Das teimosias e intransigências. Dos cochilos e cochichos.


            Como falamos! Quando olhamos em volta as pessoas já haviam desaparecido uma a uma e o cenário também estava prestes a fazê-lo. Um outro encontro ficou para ser marcado para ocasião oportuna. Despedimo-nos.


Aos nossos leitores e amigos, um bom e fraterno domingo. Até a próxima.

Nenhum comentário:

Postar um comentário