sábado, 28 de agosto de 2010

- Lapa Boêmia

                    LAPA BOÊMIA

                                                                         (Crônica não-publicada)

            Tudo aconteceu quando fomos tentar a renovação do VISTO para os States, Fernandina, eu, Martha Baiana e Chico Caiafa. Quanto ao visto que estava para vencer não teve problema. Nós o conseguimos já pensando na Lapa na noite do dia seguinte.

            Esse dia, ou seja, essa noite ia ser a melhor. Aguardava-nos a Lapa Boêmia! A gente poderia ter ido a pé, pois estávamos a menos de 200 metros da zona do agrião, porém o salto alto das madames nos aconselharam a pegar um táxi. Apenas um bairro no Rio de Janeiro poderia agregar variadas manifestações musicais sem ofuscar gêneros e artistas e ser ponto de referência para os amantes da vida noturna. E esse bairro era a Lapa. Um bairro característico do Rio onde o choque de contrastes impressiona... Malandros, burgueses e prostitutas fazem um ambiente sem igual. Isso mais antigamente, hoje mais da turma jovem e os eternos amantes da noite. A Lapa tem cada sobrado histórico maravilhoso! É um bairro encantador! Tudo isso nos fez lembrar Diamantina, Ouro Preto, Tiradentes, Olinda, Rio Pomba antes das demolições e Lisboa, principalmente. Desde os anos 1950, quando começou a ser chamada de "Montmartre Carioca", a Lapa é palco de encontro intelectuais, artistas, políticos e, principalmente, do povo carioca, que ali se reúne para celebrar o samba, o forró, a MPB, o choro e mais recentemente, a música eletrônica, o rock e – naquela noite até o Jazz nos encantou a todos.

            Tradicional reduto de sambistas. Trata-se de um bairro do meu tempo de adolescente, agora, rejuvenescido, conhecido como berço da boemia carioca, também é famoso pela arquitetura, a começar pelos Arcos - conhecidos como Arcos da Lapa, construídos para funcionarem como aqueduto nos tempos do Brasil Colonial e que agora servem como via para os bondinhos que sobem o morro de Santa Teresa. O bairro nasce no final da zona sul, quando a rua da Glória torna-se rua da Lapa. Também faz limite com o bairro de Santa Teresa, subindo suas ladeiras e o pequeno bairro de Fátima. Por suas principais vias, Mem de Sá, rua do Riachuelo e rua do Lavradio, espalham-se atrações como a Sala Cecília Meireles, que é considerada a melhor casa para concertos de música de câmara (antigamente somente música erudita, hoje qualquer música executada por um pequeno número de músicos - instrumentos ou vozes -"quarteto de cordas", "quinteto de sopros" e de "metais", tudo sem maestro. Um parênteses: no ano passado assistimos um concerto de harpa, violão cello e vozes no "Espaço Tom Jobim" no Jardim Botânico, que além de oxigênio respira beleza, história, qualidade de vida e cultura, enquanto que o Big Brother Brasil respira mau-gosto e baixaria visando Ibope e dinheiro. Este programa é a morte da cultura, de valores e princípios da moral, da ética e da dignidade tudo porque o brasileiro gosta de bisbilhotar a vida alheia. Uma vergonha!!! Fecha parênteses.

            A rua Alice eu a vi de longe e me lembrei dasquelas casas maravilhoas, aconchegantes com beldades argentinas e chilenas de fexar o trânsito. Fomos la não. Nem sei se existe mais.


            Bares - Belmonte, Taberna e Boteko do Juca, Antonio´s, Arco Irís cairam no gosto do público, por seu cardápio diversificado. Bar Brasil o melhor chopp Brahma em barril de madeira. Fomos a um do lado, o Barbieri com cadeiras de barbeiro. De repente apareceu lá uma turma musical dando o maior show de Jazz. No Festival de Gastronomia de Tiradentes um show do gênero também abrilhantou o evento.


          Música - Como destaques da noite, existem os famosos Asa Branca, reduto principal do forró, os bares Semente e Ernesto, palcos do autêntico chorinho e também o Rio Scenarium e o Carioca da Gema, onde reinam absolutas as rodas de samba. Recentemente foi inaugurada a gafieira Lapa 40 Graus, na rua do Riachuelo, ao lado do Clube dos Democráticos. No meu tempo era o Largo dos Pracinhas (uma praça anexa aos arcos) hoje existe um enorme Circo Voador, inaugurado em 2004. A rua dos Arcos, que atravessa o aqueduto, era uma via ocupada por edificações centenárias, entre elas a Fundição Progresso, que hoje é uma casa de shows. Neste local existe também uma infinidade de bares e casas de shows que atendem a todos os gostos. Só para se ter uma idéia da atual "efervescência" do bairro mais de 15 estabelecimentos comerciais foram abertos apenas no último ano.

           
Jazz. O ritmo adquiriu status artístico. É música para ser ouvida e refletida, aproximando-o assim do respeito intelectual tradicionalmente devotado à música clássica de origem européia. O estilo privilegia os pequenos conjuntos e os solistas de grande virtuosismo. É sempre tocado por um pequeno número de músicos talentosos. O som é flexível, nervoso, anguloso, cheio de saltos que exigem uma técnica instrumental muito desenvolvida. Vi saxofonista, trompetista e outros instrumentos que nem sei o nome. No festival de Cultura e gastronomia de Tiradentes andei atrás desse som, também frenèticamente porque ele me contagiou desde os filmes “Uma cabine no céu”, O Homem do Braço de Ouro (The Man with the Golden Arm, 1956) com Frank Sinatra, Eleanor Parker, Kim Novak, meus eternos artistas. Sempre fui amante da sétima arte.

            O Samba de Raiz é a expressão mais autêntica da cultura musical brasileira. Vi em uma esquina, na Lapa, um pandeiro de couro, um cavaquinho, cuíca, surdo, violão e violão de sete cordas. Estava ali instalado um Samba de Raiz da melhor qualidade. A medida que desfilava pelas ruas sentia uma autêntica cultura brasileira a cada passo. Saimos da Lapa lá pelas três da madruga, mesmo assim porque o samba de raiz estava indo embora. Ele começou cedo.

            Às vezes fico pensando: tempo bom aquele no botequim do Geraldo Clemente de Rio Pomba, quando a gente vinha da pelada do sábado do pombense e nos instalávamos nos fundos a cantar sambas de raiz. Não perco a oportunidade de sempre ver nomes de peso e novos talentos cantando sambas antigos e também os mais recentes. Ver a alegria e a descontração dos músicos e participantes como eu. Podemos cantar Nélson Sargento, Zeca Pagodinho, Dudu Nobre, Fundo de Quintal, Almir Guineto, Alcione, Leci Brandão entre outros e também artistas consagrados e apreciadores do samba como Chico Caiafa, Antônio Fábio, Português, Titito, o Chico Chuana, o Pedrinho do Pedro Dias, o Célio mais o Hélio, o Caqui, Noel Rosa, Paulinho da Viola, a Miúcha e o Zé Roberto de Ubá (nossos amigos) e Cartola.

Isso é samba de raiz presemnte em nossas  vidas. E viva  a poemia!
E viva a boemia!
“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina feche.”

(Arnaldo Jabour)

3 comentários:

  1. Meus lindos mineirinhos,


    Lapa Boêmia - AMEI !! Só li agora e como estou viajando amanhã cedo para Franca, deixo um pequeno presente para voces e no domingo quando voltar vou reler e comentar este relato maravilhoso .Como diz o Luxemburgo: CARAI !!!O HOMI ISCREVE UMA BARBARIDADE.
    Telmo

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  2. Hoje não quero repetir que você é um grande escritor,nem do talento que pra tanta coisa você tem,que sou sua fã número um.
    Hoje só quero lhe dizer que lhe amo.
    Parabéns pela pessoa linda que vc é.Beijo,Martha

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  3. Caçando histórias pela madrugada e tropecei nesse registro. Me deu conta que não há um histórico do.local por meio de diversos relatos de garcons, somos de bar e outros do bairro

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